Crónicas urbanas VII
Viste ontem o blog do caçador?
...
Estou a falar contigo.
O que é?
Se viste ontem o blog do caçador?
Qual, aquele dos queliques de que estás sempre a falar?
Sim, viste aquele anjo que…
Mas que raio de nome é esse, caçador? Quem é que se lembra de chamar a si próprio caçador?
Então, é…
Caçador não é um nome, é uma actividade, um hoby, nem sequer é uma profissão.
Deve ser por causa do outro blogue…
Qual, aquele dos bichos sem graça nenhuma? O gajo deve ter é a mania, é só para se armar em bom, eu sou um grande caçador e tal…
Eu não acho nada. E até estava a pensar em fazer uma sugestão…
Para quê, e de onde é que conheces o tipo?
Então, não é preciso, os blogues são…
Uma treta é o que eles são.
Não são nada. Até é giro, são uma forma de…
Mas posso ler o jornal descansado ou não?
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O coveiro que o diga...
(…e creio que o clik5 vos poderá ajudar um dia, sabe-se lá…)
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Estuário
É no estuário que o rio se aquieta. Eu não.
É lá que entrega as águas e se rende. Eu não.
Eu entorno-me em ti, pra chegar ao coração.
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"A quoi ça sert l’amour?"
podem responder se quiserem. se puderem. ou se ousarem. eu por mim não lhe vejo interesse nenhum. não se come. não se bebe. não se respira. não produz nada. não serve para nada. é como a arte. uma inutilidade.
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Arsenal do Alfeite. Laranjeiro - ImaginArte
Serve o presente para os informar que inaugura hoje a exposição colectiva do Projecto ImaginArte Almada 2009, às 19 horas, no Fórum Municipal Romeu Correia, em Almada. Trata-se de um projecto bienal promovido pela Associação F4 e as onze freguesias concelho. Vou participar com fotografias tiradas nos estaleiros do Arsenal do Alfeite no âmbito da exposição “Na Esteira do Arsenal” realizada no Museu da cidade de Almada – clik5.
A partir de dia 16, e até 5 de Dezembro, podem encontrar a minha exposição completa na Junta de Freguesia do Laranjeiro. As dos outros fotógrafos do projecto, estarão patentes nas restantes freguesias do concelho de Almada.
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“Ich bin ein Berliner”
Foi há 20 anos que caiu o muro. Que se rasgou a cortina de ferro. O fim da guerra-fria. Oito meses depois, vivia-se em Berlim um clima que só me fez lembrar o nosso verão depois do 25 de Abril. Alegria, alguma confusão e uma enorme esperança no futuro. Mais tarde, veio o desencanto…
Nós nunca soubemos como era de facto do outro lado. Só tínhamos duas versões: a do paraíso dos trabalhadores, a prática do verdadeiro ideal socialista, ou então, a do inferno comunista, a raiz do mal. Em todo o caso, sabemos agora um pouco mais, com a distância dos anos. Não era tão mau nem tão bom como ambos os lados apregoavam. Mas não deixa por isso de ter sido uma grande e imperdoável mentira.
O muro, de Berlim, é história. Mas para nossa vergonha, os muros continuam aí a crescer e a multiplicar-se um pouco por todo o lado. Muros que impedem a entrada, muros que bloqueiam a saída. Muros, paredes, redes, arames farpados, barreiras, campos de minas, muralhas, fronteiras… Limites. E os outros, que não são de ferro nem betão, mais duros que o aço. Limites. Religiosos, políticos, económicos, sociais… Temos medo e erguemos muros. Lá fora e dentro de nós.
Não aprendemos nada!
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Berliner Mauer
1990. Foi há oito meses que o muro caiu. Hoje vamos visitá-lo com mais atenção, percorrê-lo. Faltam bocados em muitos sítios. Não há guardas em lado nenhum. Por trás das portas de Brandenburgo há um fervilhar de gente, berlinenses dos dois lados, turistas e alemães ocidentais. Estendem-se bancadas mais ou menos improvisadas. A feira mais original que já vi. Vendem-se fardas e equipamento dos volpos, os guardas do muro, e do exército e, olha olha, vendo melhor, do próprio exército soviético. Estou impressionado. Aquilo parece uma improvável utopia, o exército vendido aos bocados. Só não há armas. Não não, afinal também há, baionetas. E crachás de todo o tipo, e divisas, bandeiras, calças, dólmenes, botas, todo o tipo de chapéus ou lá como se chama aquilo com que os exércitos cobrem a cabeça e ainda aqueles espantosos modelos russos em pele. Comprei um telescópio, tipo pirata, soviético, com uma luminosidade fantástica.
Às tantas, uma nova surpresa. Bancadas com bocados do muro! Pedaços de betão de vários tamanhos, cinzentos e irregulares com uma das faces colorida, como que arrancada de onde estava um dos muitos, tantos, grafittis que do lado oeste humanizavam o muro. Que pena! Um dos vendedores disse que blocos inteiros foram vendidos para o estrangeiro, principalmente para os Estados Unidos.
Continuamos o nosso percurso. A certa altura, do outro lado do rio avistamos pessoas junto ao muro, parece que estão a parti-lo. Dirigimo-nos para lá. Ao aproximarmo-nos começa-se a ouvir um barulho de aço contra o betão. Dezenas de pessoas martelam as paredes, algumas têm panos no chão onde colocam os pedaços arrancados e os vendem. O preço varia com o tamanho e o colorido, os mais baratos são apenas betão. Última surpresa, afinal o colorido é de fabrico instantâneo, os diligentes extractores de recordações têm latas de tinta com que borrifam as paredes num pseudo grafitti, tinta deitada ao acaso, borrões. Não importa a forma, depois de arrancados os pedaços são demasiado pequenos para permitirem algum reconhecimento.
Lembro-me que tenho uma caixa de ferramentas no carro e, provavelmente, um martelo. E tenho mesmo, e ainda um pequeno escopo. Tento também extrair o meu próprio troféu. Não é simples, porque o betão estilhaça-se facilmente, mas encho um pequeno saco…
E é isto em que se converteu o muro, este muro, em recordações para turistas. Mais de 80 pessoas morreram a tentar atravessá-lo, mais de uma centena ficou ferida, foram presas milhares…
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West-Berlin
1990. Foi há oito meses.
Berlim-Este é uma ilha. Já sabia que era um enclave na Alemanha Democrática, mas só agora consigo perceber a sua insularidade. Uma ilha sem mar rodeada de paredes. Opressivas, concentracionárias. Os berlinenses deste lado viveram esse peso, essa liberdade condicionada, à sua maneira, agarrando a vida mais intensamente que em qualquer outro lugar, saboreando cada golfada como se fosse a última e não houvesse amanhã.
A cidade aqui é diferente, apresenta uma prosperidade que parece exagerada, ostensivamente luxuosa. De manhã, vindos do tal lugar de campismo, percorremos bairros enormes de prédios cinzentos e monótonos, quase sem lojas, sem cafés nem restaurantes, estranhamente silenciosos e vazios.
Entrámos em Berlim ocidental por um dos checkpoints, aberto e sem guardas, mas intacto, com as suas gaiolas de rede onde as pessoas esperavam a possibilidade de passagem. Procurámos o famoso checkpoint Charlie, estava já quase todo destruído. Passámos o dia deste lado. Do alto do edifício Mercedes consegue-se perceber a cidade. E o Muro, agora já com brechas em muitos sítios. Nuns lugares dá a impressão que a cidade está semeada de baldios, noutros, que é um enorme estaleiro onde se constroem prédios ao ritmo exacto e metódico dos alemães. Toda a cidade está em obras e as gruas enchem o horizonte como pontos de exclamação.
Num desses terrenos erguem-se estruturas metálicas, uma delas parece um enorme palco. Ficámos curiosos. Indagámos. Vai haver um concerto enorme “The Wall” dos Pink Floyd junto à Potsdamer Platz. O quê, mas isso é já amanhã! Voámos dali para fora, bilhetes, onde é que se vendem bilhetes? Sim é aqui, mas estão esgotados. Esgotados??!! Esgotadíssimos.
À noite, o regresso, ao tal lugar de campismo, foi quase tão triste como aqueles bairros enormes e escuros, espectrais, iluminados por lâmpadas envergonhadas de tão fracas que se enforcavam nos raros candeeiros que nem chegavam a pontuar as ruas.
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Berlin Alexanderplatz
1990. Foi há oito meses.
Finalmente chegámos a Berlim com um céu de chumbo. Entrámos lentamente na cidade, não devido ao trânsito que era estranhamente pouco, para quem vinha da outra Alemanha, mas para dar tempo aos olhos, ao cérebro, de absorver tudo aquilo. Passámos pela estação ferroviária que tinha o muro mesmo em frente.
O muro. Pensávamos que tínhamos de o procurar, comprar um mapa ou pedir indicações para o encontrar. Nada disso. O muro estava ali e em toda a parte, arrogante e ameaçador. A intervalos regulares, torres com metralhadoras, agora abandonadas.
Percorremos as avenidas até à Alexanderplatz, o coração de Berlim oriental. Estacionámos facilmente entre Trabants, que fotografei, claro. Deambulámos pela praça, enorme e cheia de gente apressada. Num dos lados, um enorme aglomerado de gente em frente a camiões de vendedores ambulantes. Pensei nas nossas roulottes de bifanas. Estes vendem fruta, charcutaria, pão e bolos. Reparo nas matrículas, são todas da RFA. Comprámos cerejas. Mais tarde, nos outros dias, vimos lojas e pequenos supermercados fechados ou com as prateleiras semivazias.
Deixámos a Alexanderplatz. Não tínhamos onde dormir e o dia já ia avançado. Perguntámos por um pequeno hotel ou parque de campismo. Nada. Finalmente um senhor indicou-nos um lugar que não era bem um parque mas mais um lugar de campismo. Nesse momento não percebemos a diferença. Seguimos as suas orientações. A avenida transformou-se em estrada e a paisagem urbana em rural. Os quilómetros sucediam-se inquietantes, não podia ser tão longe… Perguntámos de novo, sim, vão bem, mas não podem ir para lá porque é um parque privado, reservado a trabalhadores, mas talvez seja possível, sei lá, isto está a mudar todos os dias… Continuámos por uma floresta, bela e sombria, até que chegámos à margem de um lago onde estava o tal lugar de campismo. Mas isso, é outra história.
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Autobahn
1990. Foi há oito meses.
Helmstedt, fronteira entre as duas Alemanhas. Pedem-nos o passaporte e deixam-nos entrar sem problemas. Já não são necessários vistos nem autorizações especiais. A autoestrada parece um túnel, rodeada de redes muito altas bordadas a arame farpado. A intervalos regulares, torres com metralhadoras, agora abandonadas. A rede acompanha ciosamente todo o percurso. Paro numa bomba de gasolina para um café. Não há café mas há a rede que envolve a estação de serviço, torres com metralhadoras a cada canto, agora abandonadas. Na autoestrada ultrapasso facilmente Trabants que se arrastam ruidosos e fumarentos. Reparo que muitos vão esmagados com o peso de electrodomésticos, frigoríficos e máquinas de lavar roupa, que transportam à cabeça. Há também muitos camiões e carros com matrículas da Alemanha Federal. Seguimos todos na mesma direcção: Berlim.
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Limites
Se calhar merecia um texto. Uma história. Uma reflexão profunda sobre regras sociais e políticas. Fronteiras geográficas. Barreiras éticas e deontológicas. Os limites do corpo e da mente…
Ou então sobre superação, esforço, ousadia, o ir mais além, mais rápido, mais longe…
Mas não. Não me apetece. Nem sei porque é que a chamei assim. Pensando melhor, acho que prefiro o primeiro nome que lhe dei: No meu peito danço a valsa.
Ou então sobre superação, esforço, ousadia, o ir mais além, mais rápido, mais longe…
Mas não. Não me apetece. Nem sei porque é que a chamei assim. Pensando melhor, acho que prefiro o primeiro nome que lhe dei: No meu peito danço a valsa.
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O Homem da Rádio
António Sérgio morreu. Pela primeira vez não sei o que pôr nos clikes. Há tanta música possível e temo não encontrar o tom justo, não acertar no ritmo. Tenho receio de desafinar. António Sérgio foi, é, toda a música, a minha música. A música que aprendi com ele. Aprender a ouvir, a distinguir, a dar atenção ao que importa, não importando se tem sucesso ou fama ou se vende ou não. Ouvi-o agora mesmo a dar a meia-noite na Radar: “Radar, meia-noite”, naquela voz que soa a noite, inconfundível. O António Sérgio nunca me conheceu, nunca falámos, mas posso dizer que perdi um amigo. Vou dizer que perdi um amigo. E como amigo, peço-vos ajuda para preencher este post de música. Eu agora não sou capaz.
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