A forma das coisas








Ontem fui à praia. Aproveitei a greve geral e fui à Costa de Caparica. Gosto da Costa fora do Verão, em plena maré vasa de banhistas, só alguns pescadores e aqueles seres anfíbios que vivem nas ondas com as suas tábuas. Nesta época do ano, depois das grandes chuvadas do Outono, a praia enche-se de detritos trazidos pela enchente. Descobrem-se as coisas mais estranhas, até cadáveres. Uma vez encontrei, lá para baixo, quase na Fonte da Telha, um enorme golfinho, dolorosamente morto. Diz-se que o mar tudo devolve, mas não é verdade, há coisas que engole para sempre e que jazem no fundo, como num aterro submerso.
Isto que vos mostro agora são algumas dessas coisas que povoam a praia. Nem interessa o quê, são apenas formas, nem sequer são despojos, é mesmo lixo. É que, sabem, só alguns raros fotógrafos são capazes de mostrar a essência das coisas, como o fazem certos pintores e alguns poetas (pudera, é sempre mais fácil quando se escreve a sangue), por isso, olhem, vamo-nos contentando com a forma das coisas.

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Laços de ternura



Lisboa. Manifestação anti-NATO. Sábado, 20 de Novembro de 2010.


private dance party


Como sabem, em Lisboa está a haver uma festa privada. O que significa que é só para convidados. Sem convite não se entra, claro. Que o digam todos aqueles que ficaram detidos nas fronteiras. É uma festa exclusiva, fato e gravata. E estradas cortadas, polícia, comércio fechado, barreiras por todo o lado, polícia, barcos de guerra no Tejo, espaço aéreo fechado, polícia… Enfim, não se pouparam a esforços, nem despesas, para que nada estrague a festa. A festa dos donos do mundo. Ou melhor, dos polícias do mundo, que trabalham, como cães de guarda, para os donos do mundo. Ou dono, ouvi dizer que se chama Mercado.
Parece que não é só uma confraternização, parece que também vieram para trabalhar no novo paradigma de defesa que significa, mais ou menos, uma nova definição de inimigo. E aqui é que a coisa se torna esquisita e me começa a fazer comichão, é que o inimigo agora é um gajo anónimo. É confuso? Eu explico, os inimigos deixam de ser países, estados com territórios e fronteiras, mas algo mais difuso e disperso.
É o caso do terrorismo, o que eu percebo, é uma coisa perigosa e sem rosto; mas, quem define o que são os terroristas? E nesta nova óptica, os timorenses que lutavam pela independência seriam terroristas, só para dar um exemplo assim mais familiar. E há ainda os terroristas ecológicos!!! Quem? Os que poluem e envenenam isto tudo em nome do lucro ou os que protestam contra isso? Como é que vão actuar aqui os polícias do tal senhor Mercado? Outro perigoso inimigo, sem rosto, e que se poderá manifestar, é o informático, ah pois. Só que aqui fiquei baralhado, ajudem-me, qual é o verdadeiro perigo: um possível ataque aos sistemas informáticos, segredos de defesa e esse tipo de coisas – ok, um perigo real – ou aqueles que usam a net como um território sem fronteiras, espaço de liberdade de informação e partilha, e que estão a ser cada vez mais limitados ao ponto de digitar a palavra liberdade fazer soar os alarmes na China?
Isto de demasiado poder na mão dos militares, confesso que me assusta. Vejam Lisboa, hoje é uma cidade sitiada e já não falo dos incómodos da coisa – mais valia que fossem para as Berlengas – Portugal neste momento é um estado concentracionário, um país com a liberdade condicionada. E isto, meus amigos, é, no mínimo, inquietante…


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Das Ende der Utopie



Berlin 1990.

Há 21 anos caiu um muro, lembram-se? Foi ou uma festa ou um velório. Ou as duas coisas, sei lá. O pior é que os muros são como a Hidra de Lerna, sabem, por mais que se derrubem, erguem-se sempre novos, como as cabeças do monstro. E há por aí ainda tantos ainda por cair.

Mare Nostrum

Ok pronto, eu sei que tanto mar é muita água, mas…

É este o mar. O meu mar. Uma planície de água que a chuva faz transbordar como uma noite incontinente. E este é o heróico navio em que o navego. Galeão de piratas à bolina numa avenida líquida, com pressa de chegarem ao trabalho. Corsários suburbanos de regresso a casa, cabisbaixos com a magreza do saque. O rio da minha aldeia que lava a cidade mas não as mágoas.
Mar da Palha.

Mas, por vezes, quando a luz baixa do ocaso transforma em prata a corrente junto à foz, ali mesmo onde as águas se juntam, e uma brisa molhada nos beija na boca um gosto de sal, então sou Magalhães, Nemo ou Ismael, sulcando as ondas dos sete mares.
E no final da viagem, atracado o Nautilus ao cais, bem amarrado o galeão, desço a prancha de saco no ombro e embrenho-me pelas veredas desta Lisboa tropical. 
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sinais misteriosos, 2ª parte e epílogo






vêem-se por toda a parte como manchas na pele. melanomas. nódoas negras no rosto das mulheres agredidas. povoam caminhos e recantos. sítios escusos. todos os locais.
sinais de desespero. sinais de negro e vestígios de ódio. sinais exteriores de pobreza. sinais amargos de solidão. desesperança.
sinais que não sei ler. misteriosos como as leis que regem o mundo. sinais económicos. dos mercados. de desdém. dos donos do mundo. indicadores sem dedos nem rosto. sinais de incredibilidade. 
sinais que não vejo. de revolta. de indignação. sinais do tempo. sinais que queria ver. sinais de outro tempo.
e depois há os outros. os sinais do corpo. semáforo líquido na minha mão. um rouco sinal na voz. pequenos alvos onde se pousam os lábios. sinais de esperança como sombras no nevoeiro. as caudas dos cães que se agitam. o cheiro eléctrico da trovoada. o som de passos na porta de entrada


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sinais misteriosos, 1ª parte





"encontrarás sinais pelo caminho… sinais misteriosos… já se vê…" *

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