Discurso sobre o uso cor na identificação dos cadáveres em pré rigor mortis


Hoje proponho-vos um pequeno exercício de reflexão. Temos aqui uma fotografia de parte de um complexo mineiro. A imagem de uma montanha que foi esfolada muito para além da carne, como a carcaça de um animal. De facto, o que vemos é o esqueleto da montanha, cada osso uma história de dor da terra (e do suor dos homens).
Mas falávamos da fotografia, nela a cor é mais do que uma mera opção estética, transforma-se em personagem e assume o protagonismo da narrativa, como se cada tonalidade, cada cambiante da cor, fosse a marca de um golpe desferido impiedosamente neste enorme tecido mineral.


E agora esta imagem. É a mesma fotografia mas não é a mesma fotografia. A ausência de cor anula o dramatismo da narrativa anterior. O que agora se impõe são formas, linhas que cozem a fotografia à imagem de uma planta topográfica. Os golpes são aqui curvas de nível e a foto assume-se essencialmente como um exercício gráfico, quase abstracto.
Daí meus amigos – confesso – o posto de hoje. De facto, não consegui optar entre as duas fotografias, como alguém que tem dois amores que em nada são iguais mas que se completam entre si. É que isto das imagens, e vocês sabem-no melhor do que eu, se a gente se puser a pensar, tem muito que se lhe diga…

19 comentários:

S disse...

Bom, eu sou duvidosa na minha escolha...
É verdade que a foto a cores têm muito poder. Mas a minha inclinação gráfica para tudo o que vejo faz-me gostar talvez um pouco mais da p/b.
:)

bjs

Micha disse...

Entre 2 amores se dança em branco e preto e o colorido fica so para a gente...

http://youtu.be/HeMMi6WL3Gk

CybeRider disse...

Photomelomanias em modo pedagógico! Muito bom! E eu submisso aluno, só posso dizer que gostos não se discutem. Uma é loira, a outra é morena... Mas não vamos por aí.

Há várias versões desta, deixo a que me fez um sorriso maior:

http://youtu.be/ghVQ1TjZa20

Abraço

Chapa disse...

Há momentos em que o mundo é mesmo a cores. Nesta foto, com um pouco de atenção, até podemos cheirar a terra acre, acabada de cavar.
http://youtu.be/6zEIUExgd4o

Rute disse...

....pois é dear amigo...também eu não consigo optar...fico com os dois amores;)

Beijo:)

Angel Corrochano disse...

Tienes tanto que decir!!!.
Yo tampoco elegiré, si me lo permites. Encuentro las dos excepcionales, por lo que transmiten, por lo que denuncian.

Gracias compadre amigo. Efectivamente vivimos tiempos oscuros. En España la oscuridad lo inunda todo. A veces pienso si no estaré rodeado de extraterrestres.

Respecto a tu comentario sobre la implicación de la fotografía, pues debo decirte que estoy totalmente de acuerdo en que, hoy más que nunca, es necesario implicarse y denunciar, desde nuestros humildes medios.
Pero amigo, la realidad y el futuro demandan mucho más, tal vez un arte revolucionario, capaz de abrir los ojos a esa gran mayoría en la necesidad de cambiar el mundo.
Pero francamente, yo ya no se por donde empezar.

Un fuerte abrazo

Helder Ferreira disse...

Pois eu escolho a primeira. Pelo "cheiro a carne esventrada"... é uma imagem mais poderosa e eficaz que a segunda. :)

Remus disse...

Se fosse eu que «mandasse»... publicaria agora uma delas e daqui a dois meses, num outro ano civil, publicaria a outra. Porque tal como o amigo já disse, apesar de serem a mesma fotografia, transmitem coisas diferentes, transformando-as em fotografias distintas.

IRIS disse...

na "cinza" é a terra que se espraia docemente no insinuar de seu sem fim.
nas cores, retém-se em cada sulco na avidez do mergulho mais profundo.
belas, ambas, mas a primeira dá-nos horizonte sem perder de vista. há dias, muitos, em que não consigo querer outra coisa :-))
até logo

Anónimo disse...

Mestre Dear Zé
Penso que não terá sido por acaso que, aqui, a 1º foto surge em primeiro lugar. A intenção temática terá sido mesmo expor/mostrar a primeira, a cores.
A 2ª, a p&b, já é uma questão de opção estética, secundária neste contexto (É a mesma fotografia mas não é a mesma fotografia)
Mas uma opinião vale o que vale. Nada.
Abraço
13

at disse...

gosto muito das duas e fazem sentido juntas. O beleza dramática da côr realça a traquilidade do P&B ou vice versa.
beijo

IRIS disse...

eventuais contributos para a coloração do discurso:

http://www.youtube.com/watch?v=Khm7bVSYa98&ob=av3e

http://www.youtube.com/watch?v=YQ1LI-NTa2s&ob=av2e

beso

L.Reis disse...

E fizeste muito bem em não optar...sempre considerei uma fotografia como um palimpsesto, com sucessivas camadas de significados e linguagens e consequentes leituras. Resta-me acrescentar que qualquer uma delas tem um poderoso discurso!

luísM disse...

Pois são duas fotografias, também acho evidente. O movimento das texturas (esqueceste-te delas) e das cores numa, transforma-se no movimento das linhas brilhantes dos socalcos...

luísM disse...

Usa as duas!

at disse...

gostei muito dos clikIris.

João Menéres disse...

Admiráveis ( imagens e texto ) e ponto final,

Um abraço.

mfc disse...

... uns livores cadavéricos deliciosos!

Merce disse...

Que desolador...