e foram felizes para sempre... (ou a vida dos outros. XII)


disse ele que ela lhe disse que ele andava a dizer que ela tinha dito dele que ele e ela andavam sempre em confusões pelo que ela lhe respondeu que ele é que dizia que ela é que confundia tudo o que ele lhe dizia a ela e que ela por ela nunca confundia nada ao que ele lhe retorquiu que por ele nada nunca ficaria como ela pretendia que ele punha as coisas e ele bem sabia que ela é que o punha a ele como ela bem sabia que o punha a ele e ela não se ralava nada por o pôr a ele como o punha e depois ela dizia que ele é que se punha com todas aquelas confusões quando na verdade era ela e não ele quem sempre confundia tudo o que ele lhe dizia a ela mas ela não se calou e disse que mais uma vez ele estava a acusá-la a ela de confundir tudo quando ele é que tinha o hábito de dizer coisas que ela não tinha dito fazendo ele sempre cada vez mais confusões com o que ele disse e o que ela tinha dito e mais que ele é que era tão confuso que nem ela própria sabia o que tinha dito quanto mais dizer que ela tinha dito coisas que nunca disse e por isso ele não as podia ter ouvido dela e vai daí ele disse que mais uma vez lá estava ela a dar o dito por não dito que ela dissera tudo o que ele disse que ela dissera e que por ela o ter dito é que ele o afirmava e tinha a certeza que ela o tinha dito a ele que ele bem a ouviu e que já estava farto das confusões dela e ela grita-lhe que ele para dizer aquilo não precisava de gritar se ainda por cima as confusões do que ela e ele disseram era sempre ele que as fazia e não ela e ele disse que não tinha gritado nada que ele nunca gritava que ela é que andava sempre aos gritos que até parecia que ela não sabia falar normalmente como as pessoas civilizadas e ela disse-lhe que ele é que não era mesmo nada civilizado e que era preciso ter muita lata para dizer aquilo e ainda por cima aos gritos daquela maneira que já não eram gritos mas berros o que ele dava que até parecia um bicho enraivecido e que ela não era obrigada a aturar aquilo ou ele pensava que ela era o quê e ele disse que animal era ela ou pior ainda ela era uma grandessíssima besta quadrada para lhe vir com aquelas histórias e que de uma vez para sempre ele não gritava nunca gritava e ela é que lhe vinha sempre com aquelas coisas e ainda por cima a confundir sempre tudo e que ele já estava farto de toda aquela conversa e vai daí ela disse que ele não estava de certeza mais farto do que ela não só da conversa como dele que era um chato sempre a confundir as coisas e a gritar e que porra não precisava de a agredir e ele disse-lhe quem é que te agrediu que ele nem lhe tinha tocado e que se o tinha feito foi de raspão e que a culpa era dela não estivesse tão perto dele que o incomodava ai bateste sim senhor que eu bem o senti e não tens o direito de me tocar e ela disse ainda que nem sequer pensasse em se atrever a tornar a tocar-lhe e ai bruto lá estás tu outra vez magoaste-me estúpido e ele gritou-lhe que não lhe admitia que ela lhe chamasse a ele estúpido e que ela era uma grande cabra que nunca mais acabava de lhe chatear a cabeça e que se ela não se calasse é que ele lhe dava mesmo um estalo que se acabavam logo as fitas todas ao que ela lhe disse que já estava farto dele que começava a detestá-lo e que ele se virasse para a frente em vez de estar só a olhar para ela com cara de mau que ela não tinha medo nenhum e que tivesse mais atenção e cuidado e que além disso ele era um nabo e vai daí ele levanta a mão para lhe bater e atravessa-se à frente deles um grande cão e ela disse seu estúpido olha o cão e ele tenta bater-lhe e fugir do cão ao mesmo tempo só que derrapa e perde o controlo do carro e vão direitinhos bater num enorme eucalipto à beira da estrada…

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Um dia na ferrovia



O comboio segue em frente com passageiros de frente para a frente e outros de costas para a frente. Uns avançam com a frente para a frente e outros recuam para a frente ou avançam de costas para a frente que está por detrás da frente dos que estão à retaguarda dos seguem de costas para a frente. Eu sou dos que recuam de costas para a frente e olho para a menina do lado que como eu avança para trás que é a frente do comboio que não é  um comboio mas uma automotora que leva passageiros de frente e de costas e a menina do lado que lê um livro sentada num banco de madeira e ferro bifacetado com frentes para a frente e para a retaguarda. Eu penso na menina do lado e o comboio avança com a menina do lado de costas à minha esquerda e eu vejo a menina do lado sentada num livro a ler o comboio que é uma automotora e eu vou sentado de costas a pensar para a frente e a olhar de lado para o comboio-automotora que avança na menina do lado que lê um livro bifacetado com costas e frente para onde vão sentados os passageiros que recuam e avançam para a frente do banco da menina do lado que vai nua no meu colo de lado para a minha frente que vai de costas para as costas dos que estão de frente para a frente do comboio que não é um comboio mas uma automotora e que já chegou ao Barreiro...

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