falo-te (a ti que sabes do que falo)
falo-te da luz que me cega até
ao alívio do ocaso
do vento gelado que prende os
pássaros ao chão e
verga os homens sob o peso do
céu
tão baixo
as chaminés das casas a
furarem as nuvens como os ossos
à pele...
não te conto das cores que
não passam de feridas que a
luz arranha e os homens nomeiam
com o desacordo do costume
onde vês branco eu digo
página
e o teu negro é para mim um
mapa a prometer
caminhos…
interessam-me pouco as flores
menos as que ofereço
e a memória dos cravos
e a memória que os cravos
recordam
quando o tempo cheirava a futuro
e os dias
não se esgotavam
como um casaco no fio a
revelar a geografia dos ossos…
embrulho-me no Inverno contra
o excesso de cor
a mão na mão do frio e o
vento
é o guia que conduz o chão
até ao aconchego dos meus
passos
pelos caminhos seguros da noite…
Persona XIII
Falamos de máscaras. Do rosto que se coloca sobre o rosto para sermos nós próprios. Das máscaras que se colocam sobre as máscaras até sermos… espelho e reflexo, quando o rosto se estilhaça em personas que nos abandonam e ignoram e já só nos resta… existir.
Os romanos
chamavam persona às máscaras do teatro. Per sonare. Expandir a voz.
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