disse ele que ela lhe disse que ele andava a dizer
que ela tinha dito dele que ele e ela andavam sempre em confusões pelo que ela
lhe respondeu que ele é que dizia que ela é que confundia tudo o que ele lhe
dizia a ela e que ela por ela nunca confundia nada ao que ele lhe retorquiu que
por ele nada nunca ficaria como ela pretendia que ele punha as coisas e ele bem
sabia que ela é que o punha a ele como ela bem sabia que o punha a ele e ela não
se ralava nada por o pôr a ele como o punha e depois ela dizia que ele é que se
punha com todas aquelas confusões quando na verdade era ela e não ele quem
sempre confundia tudo o que ele lhe dizia a ela mas ela não se calou e disse
que mais uma vez ele estava a acusá-la a ela de confundir tudo quando ele é que
tinha o hábito de dizer coisas que ela não tinha dito fazendo ele sempre cada
vez mais confusões com o que ele disse e o que ela tinha dito e mais que ele é
que era tão confuso que nem ela própria sabia o que tinha dito quanto mais
dizer que ela tinha dito coisas que nunca disse e por isso ele não as podia ter
ouvido dela e vai daí ele disse que mais uma vez lá estava ela a dar o dito por
não dito que ela dissera tudo o que ele disse que ela dissera e que por ela o
ter dito é que ele o afirmava e tinha a certeza que ela o tinha dito a ele que
ele bem a ouviu e que já estava farto das confusões dela e ela grita-lhe que
ele para dizer aquilo não precisava de gritar se ainda por cima as confusões do
que ela e ele disseram era sempre ele que as fazia e não ela e ele disse que
não tinha gritado nada que ele nunca gritava que ela é que andava sempre aos
gritos que até parecia que ela não sabia falar normalmente como as pessoas
civilizadas e ela disse-lhe que ele é que não era mesmo nada civilizado e que
era preciso ter muita lata para dizer aquilo e ainda por cima aos gritos
daquela maneira que já não eram gritos mas berros o que ele dava que até
parecia um bicho enraivecido e que ela não era obrigada a aturar aquilo ou ele
pensava que ela era o quê e ele disse que animal era ela ou pior ainda ela era
uma grandessíssima besta quadrada para lhe vir com aquelas histórias e que de
uma vez para sempre ele não gritava nunca gritava e ela é que lhe vinha sempre
com aquelas coisas e ainda por cima a confundir sempre tudo e que ele já estava
farto de toda aquela conversa e vai daí ela disse que ele não estava de certeza
mais farto do que ela não só da conversa como dele que era um chato sempre a
confundir as coisas e a gritar e que porra não precisava de a agredir e ele
disse-lhe quem é que te agrediu que ele nem lhe tinha tocado e que se o tinha
feito foi de raspão e que a culpa era dela não estivesse tão perto dele que o incomodava
ai bateste sim senhor que eu bem o senti e não tens o direito de me tocar e ela
disse ainda que nem sequer pensasse em se atrever a tornar a tocar-lhe e ai
bruto lá estás tu outra vez magoaste-me estúpido e ele gritou-lhe que não lhe
admitia que ela lhe chamasse a ele estúpido e que ela era uma grande cabra que
nunca mais acabava de lhe chatear a cabeça e que se ela não se calasse é que ele
lhe dava mesmo um estalo que se acabavam logo as fitas todas ao que ela lhe
disse que já estava farto dele que começava a detestá-lo e que ele se virasse
para a frente em vez de estar só a olhar para ela com cara de mau que ela não
tinha medo nenhum e que tivesse mais atenção e cuidado e que além disso ele era
um nabo e vai daí ele levanta a mão para lhe bater e atravessa-se à frente
deles um grande cão e ela disse seu estúpido olha o cão e ele tenta bater-lhe e
fugir do cão ao mesmo tempo só que derrapa e perde o controlo do carro e vão
direitinhos bater num enorme eucalipto à beira da estrada…
Um dia na ferrovia
O
comboio segue em frente com passageiros de frente para a frente e outros de
costas para a frente. Uns avançam com a frente para a frente e outros recuam
para a frente ou avançam de costas para a frente que está por detrás da frente
dos que estão à retaguarda dos seguem de costas para a frente. Eu
sou dos que recuam de costas para a frente e olho para a menina do lado que
como eu avança para trás que é a frente do comboio que não é um comboio mas uma
automotora que leva passageiros de frente e de costas e a menina do lado que lê
um livro sentada num banco de madeira e ferro bifacetado com frentes para a
frente e para a retaguarda. Eu penso na menina do lado e o comboio avança com a menina do lado de
costas à minha esquerda e eu vejo a menina do lado sentada num livro a ler o
comboio que é uma automotora e eu vou sentado de costas a pensar para a frente
e a olhar de lado para o comboio-automotora que avança na menina do lado que lê
um livro bifacetado com costas e frente para onde vão sentados os passageiros que
recuam e avançam para a frente do banco da menina do lado que vai nua no meu
colo de lado para a minha frente que vai de costas para as costas dos que estão
de frente para a frente do comboio que não é um comboio mas uma automotora e que
já chegou ao Barreiro...
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