quando chegar Abril vou-me lembrar de Abril
aquela manhã cinzenta a explodir em vermelho
e eu a faltar à escola
vou-me lembrar dos soldados da minha terra
de camuflado
a regressarem ao quartel
em camionetas verdes tapadas com lonas
os canos das espingardas semeados com cravos
lá para os pés do Cristo Rei
e um sorriso infantil a rasgar o rosto
de quem ganhou a mais bela das batalhas
quando chegar Abril vou-me lembrar de Abril
e sair para as ruas
e vou ver o cinzento das cinzas
dos cravos queimados
espalhadas no vento que sopra nas ruas
vou ver vultos vergados a arrastarem os pés
num silêncio lento
a revolverem o chão onde
com dedos sujos do pó cinzento
das cinzas dos cravos queimados
espalhadas no vento das ruas
procuram os ossos da revolução