Paisagem com barco II
Os barcos são criaturas que nos invadem o imaginário. Dominam a paisagem com promessas de evasão. São pontes sem pilares que atam as pontas soltas das margens. Tapetes flutuantes de todas as possibilidades de aventura.
E o que é que isso interessa às gaivotas?
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Península Ibérica
Terra de marinheiros valorosos, descobrimos o mundo. Fizemos a Terra grande e redonda. Reinventámos o colonialismo, a tourada e a sesta. Criámos a globalização. Lutámos como irmãos desavindos mas construímos pontes onde antes havia fronteiras. Conhecemos a fome com Salazar e Franco. Entrámos juntos na Europa e somos a sua colónia de férias. 571 milhões falam as nossas línguas. Gostamos de vinho tinto e de falar alto. E gostamos do mar.
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Mundos Paralelos
Há mundos paralelos, criaturas invisíveis, seres diáfanos que passam à nossa porta. Todos os dias nos cruzamos com o indizível, com o numinoso. Por todo o lado há sinais, rastos das suas presenças. Provas que afirmam as suas existências secretas. Pegadas. São tão reais como nós, embora diferentes de nós. Somos-lhes tão estranhos como eles o são para os nossos sentidos. E no entanto, não precisamos de nenhum equipamento especial para ver os outros. Basta olhar.
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Paisagem com cão
Viajar é um vício. Um pecado mortal não contabilizado. Pior que os sete capitais, porque os provoca. Pode ser luxúria, orgulho, gula, mesmo inveja.
Viajar é uma forma de entender o mundo, de aproximar as pessoas. Viajar é liberdade. E é contra isso que se inventaram as fronteiras. Hoje, até os cães precisam de passaporte.
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O melhor do mundo
Há coisas no mundo que são universais: o vento, o sangue, a febre, a voz, o medo, a pobreza, o riso, a crueldade, a fome, a terra, o ódio, a noite, a dor de dentes, o sono... "mas o melhor do mundo são as crianças".
Dirt
Há pessoas que fazem trabalhos que nós nem imaginamos, trabalhos a que nem sequer nos damos ao trabalho de querer saber. Na Índia são intocáveis. Por cá, são imigrantes.
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O fim da utopia
Berlim 1990.
O centro do mundo já passou por aqui, várias vezes. Foi capital do mal absoluto e centro de toda a esperança. Foi exemplo aclamado de virtudes e exemplo apontado de ódios. Dividiu opiniões, pessoas e países muito para além dos limites daquele muro. Muro que continua a crescer noutros lugares, para vergonha nossa.
A mim faz-me lembrar porque não gosto de utopias: são sempre o sonho de alguém imposto aos outros, pela força.
O centro do mundo já passou por aqui, várias vezes. Foi capital do mal absoluto e centro de toda a esperança. Foi exemplo aclamado de virtudes e exemplo apontado de ódios. Dividiu opiniões, pessoas e países muito para além dos limites daquele muro. Muro que continua a crescer noutros lugares, para vergonha nossa.
A mim faz-me lembrar porque não gosto de utopias: são sempre o sonho de alguém imposto aos outros, pela força.
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A cidade maquilhada
Pintar a cidade de cores fortes. Exagerar. Aplicar camadas de base, cobrir manchas, rugas, imperfeições, olheiras e medos. Realçar com lápis, contornos e caminhos, becos e logradouros. Usar rímel para acentuar as sombras dos prédios, quiosques e antenas. Para parques e jardins usar um blush, o melhor é escolher um tom intenso e versátil entre o rosa choque e o pêssego histérico. Nos rios, lagos e fontes, deixar a tinta correr. Realçar a beleza das janelas, com tons que complementem a cor das mesmas, ou que as contrastem vivamente. Pintar os olhos e o céu. Usar batons ou gloss, a gosto, de forma abundante e indiscriminada. E tinta, muita tinta no chão das avenidas.
Entrar na cidade, sem mapa e perder-me intensamente nas ruas.
Entrar na cidade, sem mapa e perder-me intensamente nas ruas.
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Skyline
Há dias claros que parecem nublados. Dias que perdem cor e detalhes e deles só vemos os contornos. Dias em que amanhecemos de óculos de sol. Cataratas à espera de cirurgia. Há dias em que as pessoas não chegam a ser gente. Borrões na paisagem. Sinais ortográficos. Um rumor ao longe, como o mar. E entre eles e eu, uma enorme praça em que não convido ninguém a entrar.
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