Tivesse eu assim um cavalo e tudo seria diferente. Um corcel negro e uma sela dourada e brilhante como este sol que nos queima. Um alazão para partir à desfilada, arrancar num turbilhão de pó e de vento que faria voar o meu chapéu de palha e a minha triste timidez. Tivesse eu um cavalo e também usaria turbante, um belo turbante branco, enrolado em voltas perfeitas. E correríamos num galope selvagem, tiro certeiro, que me faria chegar junto de ti.
E tu virias à janela no teu kaftan bordado, olharias para mim com os teus olhos negro e sorririas. Depois chamarias a tua mãe e as tuas irmãs – o teu irmão mais novo correria até mim para acariciar o cavalo e pedir-me que o deixasse levar até ao curral, onde lhe daria água fresca e cevada – e todas as mulheres da casa viriam à porta para me receber. Seria convidado a entrar para a sala onde me farias sentar no tapete mais antigo, entre almofadas de seda. A seguir, entraria a tua mãe com um tabuleiro com chá e bolinhos de sésamo e mel. Tu própria me servirias e, quando pegasse no copo que tu me estenderias, as minhas mãos roçariam nas tuas, dentada de fogo na pele. E ergueria os olhos para encontrar a chama negra dos teus e nunca uma mulher olhou alguém assim desse modo.
E sorvi-te em cada gole desse chá, e cravei os dentes na tua pele em cada pedaço de bolo. E durante todo esse tempo, os nossos olhos permaneceram colados, unidos como os cães às cadelas, as tuas narinas frementes como as do meu cavalo quando galopa. Sinto a garganta rouca e o peito a arder, mas não é o calor do chá que me queima, é o cheiro do teu corpo. O hálito do fundo do teu corpo que me entontece mais que o fumo do naguilé e…
*para ti