Persona X


Falamos de máscaras. Do rosto que se coloca sobre o rosto para sermos nós próprios. Os romanos chamavam persona às máscaras do teatro. Per sonare. Expandir a voz.

Há personagens que, de tão afiveladas, parecem ter-se tornado banais, mas banais mesmo só serão quando deixarem de fazer sentido… mas pelo sim pelo não, protege-se o olhar da máscara… 


“Am I blue, you'd be too”




(há qualquer coisa nas fotos, espreitem)

como um sopro de Ariane


percorro-te
de va ga ri nho
em volteios e filigranas
passos dobles
sevilhanas
a fingir
que estou perdido
para melhor me perder
nas pregas do teu vestido 


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dieta mediterrânica


Deixa ver se não me esqueço, batatas, cenouras, não sei porque é que aquela bruxa disse aquilo, é mesmo venenosa, manteiga magra por causa da tensão, que os meus filhos não me ligam nenhuma, têm lá a vida deles coitados, moram longe, tomates, azeite, bacalhau, tem de ser do mais baixinho que o outro custa um dinheirão, é verdade que podiam telefonar de vez em quando, se não sou eu a ligar, ligo pouco para não parecer que abuso, e que saudades tenho do meu neto, até me doeu o peito a última vez que o vi e ele nem me conheceu, massa, pimentos, os olhos colados à televisão, carapaus, apetecia-me carapaus com molho à espanhola, coentros, pão, devia ter feito uma lista, esqueço-me sempre de fazer uma lista, eras tu que a fazias sempre, a ver se esta semana te vou mudar as flores e lavar a campa, levo costeletas ou, não, levo antes bifes de frango, evitar as carnes vermelhas, a médica de família tão simpática mas aquelas unhas pintadas de negro, que espécie de médica é que pinta as unhas de negro, rabanetes, feijão, alhos que já não tenho nenhuns e bacalhau sem alhos, não te ligam, estás sempre tão sozinha, bruxa, não admira que o marido a tenha deixado, com dois filhos nos braços, coitada, também tem tido o seu fado, a mim é a morte que mos leva todos, tu, o mano ainda tão novinho, a mana naquele sofrimento até ao fim, a mãezinha, ovos e fiambre, o pai, que saudades tenho do meu pai tão meu amigo, amigo de toda a gente, detergente, arroz, porque é que não me vêm ver mais vezes também não é assim tão longe, mãe tem de comer mais legumes, peixe, açordas, a mãe nunca ouviu falar da dieta mediterrânica? nunca comi eu outra coisa ou já não te lembras, há quanto tempo não nos sentamos os dois à mesa, queijo, grão de bico, azeitonas, o que vale é os nossos entes queridos que nunca nos deixam ficar sós…

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