Resignação



Tá bem, eu sei que disse que gosto do Inverno. E até gosto da chuva. Mas acho que já chega, pronto. É que assim nem dá para andar por aí a tirar fotografias.

Take Off


(E agora vou deixar-vos por uns dias. Procurar novos territórios ou assim. E se por acaso encontrarem em Madrid uma espécie de caçador com ar meio alucinado, pois pode muito bem ser que seja este vosso amigo. Divirtam-se neste Carnaval, e se quiserem tirem a máscara, que ninguém leva a mal.)

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Milonga para um amor perdido (A mulher que perdeu a cabeça. 2ª parte)



Não. Não era amor o que sentiu pelo cantor de boleros. Nunca foi.

De pé, no terraço, sente-se pairar sobre as casas. Abraça o corpo no frio da noite de Curitiba. A visão do Cruzeiro do Sul no céu límpido aumenta-lhe a sensação de estranheza.

O navio deixou-os em Buenos Aires. Lembra-se de atravessar o Atlântico num estado de euforia que chegou a confundir com felicidade. Cada dia era uma descoberta, do cantor (quis ser jogador de futebol mas uma degeneração do menisco impediu-o, isso e a falta de talento para o desporto; a desculpa do joelho vinha a calhar e a bengala ajudava ao estilo) e de si própria.

Continuava a olhar o sexo com um interesse de entomologista. O cantor abrira nela diques que já não podia conter, mas o corpo sentia-se grato e deixou de tentar perceber.

Da casa começa a sair música como fumo de um incêndio. A milonga fê-la sorrir. O navio revelou-lhe uma nova paixão, a dança. Cada dia era um longo hiato que a separava da noite e do palco. Em Buenos Aires descobriu o tango, como se tivesse passado a vida à sua espera. Algumas lições, e rapidamente se tornou o epicentro dos salões de dança. Foi quando deixou o cantor.

Um vulto aproxima-se dela e passa-lhe a cuia do mate. Acordou hoje ao lado deste corpo, as pernas longas e lisas, um seio a espreitar por entre os lençóis. Encolheu os ombros, o corpo sentia-se grato…

“Resistência”. Making Off

A imagem por trás da imagem. A foto por trás da foto. Chapa em acção, a concentração é total, o domínio dos nervos absoluto. A presa já não tem qualquer hipótese. Para verem o resultado, é só clicarem AQUI.

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A mulher que perdeu a cabeça


Deixou tudo por um cantor de boleros. Uma carreira como professora de ciências, dois filhos por conceber. Até aí o sexo incomodava-a, lembrava-se da reprodução dos insectos. O cantor tinha uma voz de ouro e um feitio canalha. O sotaque espanhol arranhava-lhe a barriga e o bigode as coxas.

Meteu numa mala roupa e a fotografia do pai militar que nunca conheceu, morto por uma mina em Angola. Beijou a mãe, inspirando pela última vez o hálito a Chanel com que iludia o gin, e saiu sem uma palavra. Do eterno noivo vereador nem sequer se despediu.
 
Seguiu o cantor em tournée, quartos de hotéis baratos por terras de Espanha. Em Cádis, um contrato com uma agência de viagens embarcou-os num cruzeiro rumo à América do Sul. A companhia aceitou-a como corista pelas pernas e camareira pelas línguas. 

Na noite da partida, a sós no convés, deixou que o vento lhe brincasse com o cabelo enquanto esperava a hora de subir ao palco. Um arrepio sacudiu-lhe os ombros e pensou se seria mesmo da curtíssima saia que vestia…

Film noir

Chez Chevalier. Merci.
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Alma lusitana



Como dizia o Alexandre O’Neill de Portugal: “País engravatado todo o ano / e a assoar-se à gravata por engano.”

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