Lá em baixo os homens despejam enormes baldes de plástico (sem o glamour dos velhos cestos de verga) na goela do reboque. O tractor equilibra-se como pode pela encosta abaixo, o sumo a escorrer, num rasto de Ariane, traça o caminho da adega. As uvas, ubérrimas de sol, vão ser esmagadas, ainda, por pés que as calcam como quem dança ou quem procura o futuro num corpo esventrado entregue em sacrifício. Os bagos transformam-se em mosto, sangue sugado da terra que tinge e inebria até adormecer de cansaço, sono tumultuoso de crisálida a fermentar no escuro mineral das talhas. A fermentação é o acto que consagra a transubstanciação do suor na substância do vinho.
V i n d i m a s
Lá em baixo os homens despejam enormes baldes de plástico (sem o glamour dos velhos cestos de verga) na goela do reboque. O tractor equilibra-se como pode pela encosta abaixo, o sumo a escorrer, num rasto de Ariane, traça o caminho da adega. As uvas, ubérrimas de sol, vão ser esmagadas, ainda, por pés que as calcam como quem dança ou quem procura o futuro num corpo esventrado entregue em sacrifício. Os bagos transformam-se em mosto, sangue sugado da terra que tinge e inebria até adormecer de cansaço, sono tumultuoso de crisálida a fermentar no escuro mineral das talhas. A fermentação é o acto que consagra a transubstanciação do suor na substância do vinho.
alentejo na tem sombra…
(…nem tem muita gente, ainda por cima têm-lhe fechado os centros de saúde, as maternidades, as escolas… de modo que, por este andar,)
sobra a luz e a cal
Um balcão em Verona
não voltei a ser quem era
por morrer uma andorinha
está de luto a Primavera
clik1 clik2 clik3 clik4 clik5 clikMicha clikAnaBarata clikChapa clikCristina clikde Verdades clikMantinha clikFadista
Exposição
O sítio da lama
clik1 clik2 clik3 clik4 clik5 clik6 clikRemus clikChapa clikChocoLimonada clikCristina
O tempo das palmeiras
Era no tempo das palmeiras, lembras-te? Quando estas incham e rebentam com um som estridente de pássaro, um odor intenso, doce, a sexo e a leite-creme queimado. Quando o ar se enche de aves, laranja e amarelas e aquelas, de enormes asas verdes com brilhos metálicos, a rasar-lhes as copas, inebriadas com o cheiro da seiva que escorre pelos buracos do tronco, em coreografias nupciais acrobáticas e secretas. Os macacos, pequenos e de braços compridos como bonecos de peluche, bebem-na até caírem de costas na areia da praia, os ventres inchados e os olhos a revirarem de prazer e incredibilidade.
Ao longe, as ilhotas afundavam-se no mar com o pôr-do-sol, para emergirem de novo na manhã seguinte, atraídas pela luz como as traças e os mosquitos. Morcegos enormes, com cara de poucos amigos, vinham comer fruta das nossas mãos, o bater das asas refrescava o ar como os leques das andaluzas.
Passou por nós um grupo de mulheres a cantar e a rir, vestidas com panos coloridos e eu disse-te que me faziam lembrar quadros de Gauguin. Concordaste com um aceno de cabeça, debruçada sobre um enorme copo de seiva com gelo e rum que sorvias ruidosamente por uma palhinha cor-de-rosa, os olhos com um brilho quente e azul que quase escondia o castanho habitual.
Perguntaste-me se eu também seria capaz de cortar uma orelha para provar o meu amor. Disse-te que uma vez rasguei a perna no arame farpado, quando roubei girassóis para te oferecer. Sorriste. Acenderam-se as torres do estaleiro naval e a noite recuou por momentos…
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