a casa está fria
o assobio da água a ferver para o chá
claudinos frescos ainda quentes no prato branco com flores azuis
a palidez dourada da luz do ocaso a pincelar os telhados
um bando de gaivotas a esvoaçar sobre as casas
triângulos brancos lá em baixo no rio a planarem sobre as águas
a casa está fria
na boca uma vontade de beijos
as mãos a queimar em concha na chávena do chá
migalhas de bolos a tracejarem rastos no algodão da toalha
a noite a chegar mais cedo na curva de uma nuvem a tapar o Sol
um pombo a quebrar o silêncio dos ossos contra a vidraça
o catamarã do Seixal a riscar nas águas a rota para Lisboa
a casa está fria
na boca um gosto a chá verde com hortelã
as mãos peganhentas de calda de açúcar
o candeeiro pequeno a adoçar as cores com a sua luzinha de vela
e a mancha vermelha do sangue do pombo a debotar este poema na janela
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