Era uma vez um rei que tinha três filhas muito lindas. Um dia, em que estavam a jantar, perguntou a cada uma delas por sua vez, o quanto gostavam dele. A mais velha respondeu:
– Quero mais a meu pai, do que à luz do Sol.
Respondeu a do meio:
– Gosto tanto de meu pai como gosto dos meus olhos.
A mais nova respondeu:
– Quero-lhe tanto, como a comida quer o sal.
Tu dizes-me isso assim?! És muito ingrata, filha malvada!
E disse-lhe que a havia de mandar matar. E logo ali ordenou a um criado que a levasse para um ermo e a matasse e lhe trouxesse os seus olhos e a sua língua.
O criado viu-se em grandes aflições, cheio de pena da princesa, logo esta que amava no segredo próprio do decoro e do respeito pelas convenções que a sua condição de plebeu exigia. Com o engenho aguçado pelo desespero, lembrou-se então de matar uma cadela que por ali usava vaguear. Assim fez, arrancou-lhe os olhos e a língua, pôs tudo numa bandeja e levou ao rei seu senhor. A menina, essa, seguiu muito triste por esse mundo. Foi estrada fora até que encontrou um lobo muito bem parecido que lhe… não, não é isso. Vejamos, chegou a uma casa muito pequenina e, cansada que estava, abriu a porta, que não estava trancada, e entrou numa cozinha com uma mesa baixinha e sete cadeiras também pequenas e depois num quarto com sete camas pequeninas e ao ver que não cabia em nenhuma deitou-se de atravessado sobre todas elas e logo ali adormeceu. Ou adormeceria se a história fosse esta que não é. O que de facto aconteceu foi que chegou ao palácio de um outro rei, e aí perguntou se precisavam de uma criada para qualquer trabalho serviçal. Precisavam e ficou. Aconteceu pouco depois que a cozinheira começou a padecer de umas sesões pustulentas, que mais parecia que larvas vivas lhes saíam do corpo, e morreu logo em seguida no meio de grande sofrimento e alarido. E foi assim foi que chegou à cozinha daquele paço real onde se afundou nas tentações do pecado da gula e numa dependência por capões de cabidela e efebos untados com mel.
Um dia veio à mesa um pastel de galinhola com ervas do monte e espargos bravos muito bem feito, e o rei ao parti-lo achou dentro um anel muito pequeno e de grande preço. Perguntou a todas as damas da corte de quem seria aquela jóia. Todas quiseram ver se o sapato, perdão, o anel lhes servia: foi passando de dedo em dedo, até que foi chamada a cozinheira, e só a ela é que o anel assentava na perfeição. O príncipe viu isto e ficou logo tomado de amores por ela, pensando que era de família de nobreza, pois como é sabido, à plebe não servem anéis valiosos em dedos calejados. Começou então a espreitá-la, porque ela só cozinhava às escondidas, e viu-a vestida com trajos de cortesã. Foi chamar o rei seu pai e ambos viram o caso e ambos se apaixonaram pela roliça princesa. O rei, porque era rei, sem demora a tomou em sua alcova enquanto o jovem príncipe seu filho, despeitado e infeliz, encontrou conforto e grande prazer no acto de espreitar atrás de portas e reposteiros e uma vocação insuspeitada por magia negra na esperança de se vingar de seu alvitrante progenitor.
Ora aconteceu que a paixão do rei pela nobre cozinheira cresceu ao ponto de lhe permitir todos os caprichos e se prestar a todas as inconfessáveis demandas. E de tal modo foi que acabou por solicitar ao papa a anulação do seu matrimónio, pagar a avultada bula que tal procedimento exige e pedir a sua delicada mão em casamento. A menina consentiu mas tirou por condição que queria cozinhar pela sua mão o jantar do dia da boda.
Para as festas de noivado convidou-se o rei que tinha três filhas, e que perdera a mais nova. A princesa cozinhou o jantar, mas nos manjares que haviam de ser postos ao rei seu pai não botou sal de propósito. Todos comiam com vontade, mas só o rei convidado é que não comia. Por fim perguntou-lhe o dono da casa, porque é que o rei não comia? Respondeu ele, não sabendo que assistia ao casamento da filha:
– Em boa verdade estou desconsolado porque a comida não tem sal.
O noivo e rei fingiu-se raivoso, expondo com arte grande colecção de trejeitos de indignação, e mandou que a cozinheira viesse ali dizer porque é que não tinha botado sal na comida. Veio então a menina vestida de princesa, mas o seu pai não a reconheceu, assim mais nutrida de carnes que estava. Ao que esta se apresentou na sua frente e lhe perguntou com lágrimas nos olhos:
- Ah, meu pai, não se lembra da sua filha mais nova? Não se lembra que eu lhe disse que gostava de si como a comida quer o sal?
O pai lembrando-se, suspirou:
- Ah, minha querida filha, tinhas razão! Perdoa-me!
Abraçou-se a ela e nisto caiu para o lado e morreu.
– Quero mais a meu pai, do que à luz do Sol.
Respondeu a do meio:
– Gosto tanto de meu pai como gosto dos meus olhos.
A mais nova respondeu:
– Quero-lhe tanto, como a comida quer o sal.
Tu dizes-me isso assim?! És muito ingrata, filha malvada!
E disse-lhe que a havia de mandar matar. E logo ali ordenou a um criado que a levasse para um ermo e a matasse e lhe trouxesse os seus olhos e a sua língua.
O criado viu-se em grandes aflições, cheio de pena da princesa, logo esta que amava no segredo próprio do decoro e do respeito pelas convenções que a sua condição de plebeu exigia. Com o engenho aguçado pelo desespero, lembrou-se então de matar uma cadela que por ali usava vaguear. Assim fez, arrancou-lhe os olhos e a língua, pôs tudo numa bandeja e levou ao rei seu senhor. A menina, essa, seguiu muito triste por esse mundo. Foi estrada fora até que encontrou um lobo muito bem parecido que lhe… não, não é isso. Vejamos, chegou a uma casa muito pequenina e, cansada que estava, abriu a porta, que não estava trancada, e entrou numa cozinha com uma mesa baixinha e sete cadeiras também pequenas e depois num quarto com sete camas pequeninas e ao ver que não cabia em nenhuma deitou-se de atravessado sobre todas elas e logo ali adormeceu. Ou adormeceria se a história fosse esta que não é. O que de facto aconteceu foi que chegou ao palácio de um outro rei, e aí perguntou se precisavam de uma criada para qualquer trabalho serviçal. Precisavam e ficou. Aconteceu pouco depois que a cozinheira começou a padecer de umas sesões pustulentas, que mais parecia que larvas vivas lhes saíam do corpo, e morreu logo em seguida no meio de grande sofrimento e alarido. E foi assim foi que chegou à cozinha daquele paço real onde se afundou nas tentações do pecado da gula e numa dependência por capões de cabidela e efebos untados com mel.
Um dia veio à mesa um pastel de galinhola com ervas do monte e espargos bravos muito bem feito, e o rei ao parti-lo achou dentro um anel muito pequeno e de grande preço. Perguntou a todas as damas da corte de quem seria aquela jóia. Todas quiseram ver se o sapato, perdão, o anel lhes servia: foi passando de dedo em dedo, até que foi chamada a cozinheira, e só a ela é que o anel assentava na perfeição. O príncipe viu isto e ficou logo tomado de amores por ela, pensando que era de família de nobreza, pois como é sabido, à plebe não servem anéis valiosos em dedos calejados. Começou então a espreitá-la, porque ela só cozinhava às escondidas, e viu-a vestida com trajos de cortesã. Foi chamar o rei seu pai e ambos viram o caso e ambos se apaixonaram pela roliça princesa. O rei, porque era rei, sem demora a tomou em sua alcova enquanto o jovem príncipe seu filho, despeitado e infeliz, encontrou conforto e grande prazer no acto de espreitar atrás de portas e reposteiros e uma vocação insuspeitada por magia negra na esperança de se vingar de seu alvitrante progenitor.
Ora aconteceu que a paixão do rei pela nobre cozinheira cresceu ao ponto de lhe permitir todos os caprichos e se prestar a todas as inconfessáveis demandas. E de tal modo foi que acabou por solicitar ao papa a anulação do seu matrimónio, pagar a avultada bula que tal procedimento exige e pedir a sua delicada mão em casamento. A menina consentiu mas tirou por condição que queria cozinhar pela sua mão o jantar do dia da boda.
Para as festas de noivado convidou-se o rei que tinha três filhas, e que perdera a mais nova. A princesa cozinhou o jantar, mas nos manjares que haviam de ser postos ao rei seu pai não botou sal de propósito. Todos comiam com vontade, mas só o rei convidado é que não comia. Por fim perguntou-lhe o dono da casa, porque é que o rei não comia? Respondeu ele, não sabendo que assistia ao casamento da filha:
– Em boa verdade estou desconsolado porque a comida não tem sal.
O noivo e rei fingiu-se raivoso, expondo com arte grande colecção de trejeitos de indignação, e mandou que a cozinheira viesse ali dizer porque é que não tinha botado sal na comida. Veio então a menina vestida de princesa, mas o seu pai não a reconheceu, assim mais nutrida de carnes que estava. Ao que esta se apresentou na sua frente e lhe perguntou com lágrimas nos olhos:
- Ah, meu pai, não se lembra da sua filha mais nova? Não se lembra que eu lhe disse que gostava de si como a comida quer o sal?
O pai lembrando-se, suspirou:
- Ah, minha querida filha, tinhas razão! Perdoa-me!
Abraçou-se a ela e nisto caiu para o lado e morreu.
25 comentários:
en lengua guaranì "juky" significa sal... y es raro cuando una muchacha es dulce, y tiene gracia, especial se dice que es una "kuñatai juky"...
ahh! Amigo querìa compartir esto contigo (ando metièndome en esto de la fotografìa, cuando sea grande quiero ser como vos) aquì han publicado algunas de mis fotos
http://zoom.ultimahora.com/2011/01/19/una-mirada-al-verano/
Salt... Maybe there's no whiter shade of pale, especially after that great frocking story.
http://www.youtube.com/watch?v=p8jJ1ORIOes
Es un bo contador de historias :) non se poderian unir millor as tres imaxes. Gustame a primeira.
Bicos a moreas!!!
http://www.youtube.com/watch?v=WVXSv3BltCI
Different stories become one story?
Very beautiful images
Beijos
Llena de ternura y significado, te prodigas poco en estos menesteres de cuentacuentos, pero cuando lo haces se para el tiempo, amigo.
Las tres fotos van genial a la historia, las tres son muy buenas.
Un abrazo compadre.
P.D. me temo que nosotros y algunos más ya estamos condenados :-) pero seguro que el infierno se encuentra lleno de amigos, verás la que organizamos allí abajo ...
Fotos salgadinhas como convém a uma história trágica de um abusador de sal. Muito bem, tem a minha benção, meu sobrinho!
«... os loucos são o sal da terra, se eles perderem a sua loucura, ó Elsa, pira-te! » se mal não recordo reza assim o Nuno Bragança no fabuloso "A noite e o riso" : )
cuidado, não te suba a tensão arterial!
http://www.youtube.com/watch?v=QSv1RjbA9Ic
beijo
cuidado com o coração...
adorei a segunda imagem, uma pintura.
Um pouco mais de sal do sul.
http://www.youtube.com/watch?v=QSv1RjbA9Ic
http://www.youtube.com/watch?v=JiNvAiJkI6U
http://www.youtube.com/watch?v=AqxAOxxCeaU
esta espécie transfiguração libertou um contador de outras histórias, ou talvez não, talvez das mesmas histórias contadas de outra maneira, em balanço de carrocel, uma alegria para os sentidos :-). as fotos são lindíssimas, claro, e a primeira é um enigma imaculado.
e a "nossa" princesa? primorosa inteligência... :-)
http://www.youtube.com/watch?v=iX1OVXTplos
por isso é a primeira
merci tout le monde
é pá Leonor Fê e Chapa, para além da coincidência que vos une, estava a guardar essa para amanhã que vai ter mais sal, depois verão se cá vierem ver
bêjo e abraço
http://www.youtube.com/watch?v=TPhnOKmhbBw
A minha tia Branquinha, de 95 anos, contava-me essa história quando eu era miúda. Delicioso, vê-la aqui : )
http://www.youtube.com/watch?v=dUV6PZeRGj0
beijos
· La fotos son estupendas y la historia... yo diría que "la sal es la sal de la vida". Gracias a ella el estúpido rey pudo morir en paz, después de haber sido perdonado por su salada hija. (¿Sigue soltera?)
· Abraços
Uma história deliciosa e muito bem contada. :-)
Mas porque é que o rei morreu?
Vou ficar em pulgas pela continuação da história. :-)
Quem está capaz de cair para o lado e morrer com a segunda fotografia desta série, sou eu...
Gosto dessa da tia de 95 anos...pois eu também a ouvi da minha tia de 98 anos....
para além dum bom contador de histórias és um grande caçador de imagens de que gosto mesmo!
Abraço
conheço mto bem esta história, a princesa guardadora de patos ou qq coisa do genero ouvi-a vezes sem conta no meu gira-discos a 45 rotações com jeito ainda me lembro de algumas canções q acompanhavam a historia
as fotografias são mto boas!
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