é noite e não está escuro o suficiente para não ter de te encarar. não suporto a luz que ilumina o ódio do teu rosto. os olhos acesos dos predadores nocturnos. raivas a estalarem os dedos nos pinheiros da avenida. as únicas florestas que o fogo não devorou. nem os dentes permitiram identificar os corpos. há tantos dias que não chove e as cinzas cobrem tudo. rostos negros de fuligem. as órbitas fundas. tão fundas que já só recebem o eco da luz. aquela reverberação que faz estremecer os abutres.
é lua nova e nem isso apaga as queimaduras dos dedos. mais escuras ainda são as nódoas negras no mapa da pele. nas raízes dos ossos. espalhas o medo como quem propaga um vírus. um gás tóxico e mortal. refugio-me na sombra mais escura da noite. escrevo às apalpadelas. uma palavra de cada vez no ritmo de um alcoólico anónimo. não sei se o que sinto é sentir ou se já não sinto nada. secaste em mim rios de artérias com o teu hálito de vampiro. os dentes a drenarem-me o que resta dos poços. o deserto a invadir tudo. a garganta aberta a impedir o grito.
talvez exagere. admito-o. sei que colecciono melodramas como outros caixas de fósforos. que tantas vezes tenho afrontamentos operáticos e achaques teatrais. mas não encontro outro modo de não te dizer mais nada. por isso morro-me para ti (para não ter de te arrancar esse sorriso trocista com um martelinho de ourives. um dente de cada vez). e declaro a quem interessar que quando nascer quero ser cremado. sem pompa mas com circunstância
é lua nova e nem isso apaga as queimaduras dos dedos. mais escuras ainda são as nódoas negras no mapa da pele. nas raízes dos ossos. espalhas o medo como quem propaga um vírus. um gás tóxico e mortal. refugio-me na sombra mais escura da noite. escrevo às apalpadelas. uma palavra de cada vez no ritmo de um alcoólico anónimo. não sei se o que sinto é sentir ou se já não sinto nada. secaste em mim rios de artérias com o teu hálito de vampiro. os dentes a drenarem-me o que resta dos poços. o deserto a invadir tudo. a garganta aberta a impedir o grito.
talvez exagere. admito-o. sei que colecciono melodramas como outros caixas de fósforos. que tantas vezes tenho afrontamentos operáticos e achaques teatrais. mas não encontro outro modo de não te dizer mais nada. por isso morro-me para ti (para não ter de te arrancar esse sorriso trocista com um martelinho de ourives. um dente de cada vez). e declaro a quem interessar que quando nascer quero ser cremado. sem pompa mas com circunstância
19 comentários:
¡Magníficas imágenes y magnífico blog! Un placer haberte encontrado. Un saludo desde Granada.
Un excelente contraluz. Me gusta.
Un saludo
Gosto destas histórias da luz e das trevas.
http://youtu.be/ZDNr0NPFQWw
Ui!
Que grande fotografia! Um excelente p&b com um controle de luz notável.
Fantástica!
...a sua escrita tem o poder de agarrar no leitor e enfeitiçá-lo.Gosto da ligação com a imagem.
[]
Inquietante, sobrecogedora. Entre las sombras se dibuja la esperanza.
Un fuerte abrazo
http://www.youtube.com/watch?v=L8ye3zJmXYw
Que foto mais linda!!
ExcelenteFoto
O que eu queria, sei eu. O que tu queres não sei se podes ter. Por vezes é uma questão de coragem, outras é a falta dela, e tudo na mesma pessoa. O que causa medo no escuro está sempre dentro de nós. Fora de nós, o caos que não controlamos, dentro de nós o caos que nos controla. Ripostar é um direito, tantas vezes sonegado. Confunde-se apatia com o bem, será que também se confunde coragem com o mal?...
http://youtu.be/tQ5VaBgXzuM
Abraço
pó. é de pó a sombra mais escura. é sempre pó o que resta, do ódio, do amor e do medo. é pó esta imagem, é do pó que se alimentam as palavras e é em pó que se quer perder a dor.
tudo isto é pó...
http://www.youtube.com/watch?v=jG13MpPY8y4
http://www.youtube.com/watch?v=H88g_Eew4PY
e é do pó que se (re)nasce, com um beijo :-)
Ver do escuro, o claro... seguir a luz, mesmo no escuro... seguir a luz...
*grande imagem!bjs
fazer da escuridão um véu de sombra
http://youtu.be/kNljdPBSZyI
já está tudo dito.
sugestão http://www.youtube.com/watch?v=zl005muyttQ
um beijo luminoso
fogo Cyber, roubava-te as palavras todas até ao limite de ficares mudo
(por falar nisso, então e a ferradura não anda?)
E sabes lá tu o medo que tenho daquilo! :)))
A escuridão também pode ser uma coisa divertida e que dá grande satisfação.
http://www.youtube.com/watch?v=MIS9yRzPFSI
A fotografia está excelente.
Esta fotografia está..é...olha, por hoje vou ficar calada, com aquela sensação de que nunca conseguiria fazer-lhe justiça...
Já as palavras deixaram-me a alma negrinha, negrinha, como um daqueles cantos escuros...
beleza, é isso.
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