Não me lembro quando tudo começou. Qual o momento exacto em que nos transformámos, como os monstros nos filmes. Em que a nossa vida se converteu num simulacro do que éramos. Em que assistimos, impávidos, à nossa queda. Pior, em que a consentimos, quando vimos nascer palavras novas e as alimentámos como a crias sôfregas e desprotegidas: indiferença, desprezo, repulsa. Ódio. Nem posso acreditar nas coisas que dissemos, que eu disse. Eu, a quem magoava fisicamente o mal inadvertido que te fazia, e agora, dói-me saber que estás bem. E tu, a quem os olhos riam à minha chegada e te inebriavas no meu cheiro, fizeste de cada palavra uma arma de arremesso, de cada gesto um vidro à prova de bala, uma muralha…nem sequer uma despedida. Estamos mortos, meu amor, estamos mortos. Estamos tão mortos que nem sentimos a dor que é a nossa vida.
A u t ó p s ia
Não me lembro quando tudo começou. Qual o momento exacto em que nos transformámos, como os monstros nos filmes. Em que a nossa vida se converteu num simulacro do que éramos. Em que assistimos, impávidos, à nossa queda. Pior, em que a consentimos, quando vimos nascer palavras novas e as alimentámos como a crias sôfregas e desprotegidas: indiferença, desprezo, repulsa. Ódio. Nem posso acreditar nas coisas que dissemos, que eu disse. Eu, a quem magoava fisicamente o mal inadvertido que te fazia, e agora, dói-me saber que estás bem. E tu, a quem os olhos riam à minha chegada e te inebriavas no meu cheiro, fizeste de cada palavra uma arma de arremesso, de cada gesto um vidro à prova de bala, uma muralha…nem sequer uma despedida. Estamos mortos, meu amor, estamos mortos. Estamos tão mortos que nem sentimos a dor que é a nossa vida.
Etiquetas:
não lugares,
p/b,
palavras e isso
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
22 comentários:
Para esta não vos peço clikes. De vez em quando será assim, umas vezes porque não quero abusar da vossa paciência, outras vezes, simplesmente porque quero fazer um post só meu.
E que vos ofereço, é claro.
(Oiçam lá os Dears, não são uma maravilha?)
Bom regresso do vortex de agosto, com uma posta de sangue, que brota dessas raízes que rasgam o mundo.
Foto fixe.
Bem, lá acabou o Agosto, já te posso convidar para vires beber um púcaro de chá aqui, ou uma gelatina de vodka...
Que me dizes?
Já estou sentada à mesa para saborear (os teus clikes) o "bife à casa", que só aqui se serve assim!;)
*sim demora, mas ficam as letras de quem escreve mais em destaque, eu prefiro este "livro" assim.
** e olha que isto hoje... não é para brincadeiras!;)
Perfecta disección del sentimiento. Un abrazo dolorido Caçador.
Una buena imagen B/N y un sentimiento fuerte.
salud
Unha parede enrugada vella e descunchada desprendendose e resecandose ata se desfacer, volvendose sinxelamente pó. Inquietante. Pero as tuas palabras unidas a imaxe... ;)
Biquiño
Que justeza, Caçador, a imagem, o texto, as palavras. Tem que ser assim, na autópsia, para ir justo à causa da morte... e, finalmente, descansar em paz.
E última música... queima... cura :-)
(Não poderia ser de outra forma, este post)
¿Sabes? En ese trocito que asoma aparecerán minúsculas hierbecitas. La naturaleza encuentra cualquier resquicio para crecer. Cada uno de nuestros desconchados son esto, oportunidades para crecer y nacer. Si, nacer, porque vivimos muertos aunque pensemos lo contrario. Hasta que no seamos capaces de ver que cada caída es una señal que nos está diciendo: vas mal, rectifica; vas mal, rectifica,... seguiremos siendo como zombis, o como decía un maestro budista: cadáveres vivos... Todo muy pulcro y bien cuidado por fuera y por dentro, todo abandonado...
Alimentemos pues el amor, entonces podremos vivir y morir en paz...
No sé si alguna vez has leído lo que pongo en mi perfil... no hay palabras, nadie (ni yo misma) las podrá poner jamás a lo que viví...
Un cariñoso abrazo abrazo
Doble abrazo, esto si que es amor, y sin pensarlo :)))
Um P&B fantástico.
Parece que o caçador apanhou um faisão...
Sem dúvida uma das melhores que vi por aqui. E mais não digo.
Esventrar a alma com palavras...ou a imagem.Bem!!!Muito bem!!!
Pode estar esventrado, mas não quer dizer que esteja acabado. :-|
Pormenor bem captado, onde a qualidade do nível de contraste é a rainha da fotografia.
Se o talento vem da terra, também ela é sagrada.
Assim como o que vem de dentro da sua.
Gosto de o ler, sobretudo quando mostra assim, a beleza e falibilidade destes seus terrenos áridos.
Onde nasce a erva daninha, pode nascer uma flor. É a mesma terra.
sim, The Dears, épicos ;-)
Não sei do que gosto mais, se da fotografia, magnífica, se do texto, pungente....
E como os dois se completam e se ilustram!
E os clicks, claro.
beijo
O contraste e a textura desta foto, estão fantásticos.
Olá Caçador
pois foi, li o que escreveste, mas depois do que disseste no post dos anjos, que era um exercício de escrita...bom, lá dizia Fernando Pessoa, que o Poeta era um fingidor...
Olha, só assim como movimento contrário, vem "a minha casa" (Gnómon) ouvir o post 98.(Se quiseres, pois claro, pois claro!)
Bem observado Margaridaa, arguta e atenta (honrosa oobservação).
E fui lá e ouvi e gostei.
Muito boa esta "Autópsia"...imagem e título.
Parabéns
sem duvida uma foto que teria estampada em uma de minhas paredes! Magnifica!
Enviar um comentário