soylent green is people

Soylent Green (À Beira do Fim na tradução portuguesa) é um fantástico filme de ficção, realizado em 1973 por Richard Fleischer e cuja acção se passa no longínquo ano de 2022. Nesse futuro superpovoado os homens esgotaram quase todos os recursos e a maioria das pessoas, pobres e desempregadas, já só se alimenta de um composto energético denominado soylent green, supostamente feito a partir de algas, enquanto os ricos comem coisas raras e caríssimas como fruta, legumes e carne. Um intrépido herói detective irá descobrir que, na realidade, aquilo é feito a partir dos cadáveres humanos…
Lembrei-me disto porque esse futuro já chegou. Só não nos comemos literalmente, mas há gente a alimentar-se de gente. O que são essas coisas dos pactos de estabilidade e das medidas draconianas do FMI se não uma espécie de antropofagia social? (Para não falar dos ataques da corja de piratas, ou melhor, de corsários disfarçados de agências de ranking que abalroam países como caravelas com a mesma sofreguidão pelo saque.)
Estou a exagerar? Algumas das medidas que li (espécie de Robin dos Bosques ao contrário, tirar aos pobres para dar aos ricos) incluem baixar o nosso opulento ordenado mínimo, congelar as pensões de reforma, aumentar os impostos (IVA a 25%!!!), acabar com o 13º mês e por aí fora….
E isto para quê? Para salvar os privilégios de uma dúzia de famílias que são os donos aqui do burgo há muitas décadas e mais uma horda de políticos arrivistas que as servem, ofuscados com a ilusão da sua própria importância. Os eleitos do costume, mais preocupados com os privilegiozinhos, os favores aos amigos, os negócios inconfessáveis e o emprego milionário pós-tirocínio, sacrificado, no governo ou na autarquia, do que com os interesses reais do país
Agora vêm aí mais umas eleições, com metade a abster-se e o resto a dar a vitória a um dos partidos trem-de-cozinha do bloco central. Nada de novo portanto...
Sabem que mais, viva a Islândia.

22 comentários:

Helder Ferreira disse...

É o que eu tenho dito, os islandeses estão a dar-nos a todos uma lição de moral...

Não conhecia o filme.. vou procurar.

João Menéres disse...

Quem dispuser de um terreno que dele se não desfaça.
Umas pencas, umas batatitas, mais umas cenouras, umas arvores de fruta...

IRIS disse...

e o medo? o medo que engole gente viva.

(e a vida e a generosidade das fotografias...)

até logo

Chapa disse...

Porque é que o Zé Mário insiste em se manter actual?
http://youtu.be/ZUJts90HIHc
e 2
http://youtu.be/wj7LKI8rIUo

mfc disse...

Não foi assim que a Alemanha perdeu a guerra?!

leonor disse...

http://www.youtube.com/watch?v=CVE72Ae82Tw&feature=related

Chapa disse...

Lembro-me de ter visto esse filme (talvez contigo), não me lembrava do nome.

Micha disse...

http://youtu.be/NOMTDktmydQ

Adelino Marques disse...

E viva mesmo...compadre lúcido!!!
Abraço

CybeRider disse...

O grito profundo que nos vai saindo, e eu que tanto pedi que não me obrigassem a ir para a rua gritar... Vejo a corja de abstencionistas (ressalva: é a minha opinião pessoal, e tenho direito a ela, caneco!) que se vangloriam nas redes sociais de que votarão branco e nulo, outros nem isso, e que incentivam as hostes a fazer o mesmo. Estes são parte do mal, a insensatez e a gula comandam o resto. Abstenham-se todos os que se sintam motivados a votar nos dois partidos do costume, mas não invoquem essa torpeza como forma de luta. Só existem duas vias para mudar alguma coisa, ou o voto na mudança ou a acção popular. Sim, esqueci-me de propósito da terceira via, a inacção, resultou com Ghandi, penso que se esgotou dessa vez.

Esta que me veio à memória, tem sido aplicada noutro contexto, deixo-ta aqui, numa leitura que me ocorreu, dedicada à Esperança que também me vai abandonando. Talvez o Phil tenha pensado nisso quando a levou a esse evento.

http://youtu.be/-OiV_5kEt6A

A braços

P.S.: Havia a Marselhesa e a Internacional... Foi tudo avacalhado pela habilidade de poucos a retorcer a vida dos outros. Temos de nos deixar de hinos! Ah! E também gostei do texto essa da "antropofagia social" encheu-me as medidas.

CybeRider disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
luisM disse...

Dear, essa é grave, mas ainda é metafórica, tal como acharmos que nos estão a foder, a afogar, a esganar, a aprisionar e tal. O sentimento é que pode ser tão forte que quase sintamos que fisicamente, ou materialmente, as coisas estão a acontecer mesmo assim.

Já que vais pelo cinema, remeto-te para a "Chuva de Pedras" do Ken Loach, que revi ainda há uma hora, o qual, com as suas limitações, dá uma perspetiva quase patética, mas também quase sublime, da obstinação na dignidade dos que aguentam a porrada numa adversidade deste tipo, por motivos que até se poderiam considerar fúteis mas que se tornaram pontos de honra.

Do tipo, "é assim que deve ser, não me lixem, é assim que vai ser feito, porra!".

Então e o que dizem dos islandeses?

XuanRata disse...

Casualmente he visto Soylent Green hace menos de una semana, una obra desasosegante sobre todo porque todo resulta en ella extrañamente familiar, próximo.
Creo que aún tenemos que estar peor para que algo pueda cambiar. Es triste decirlo.

Volver de nuevo a la tierra, como los protagonistas de tu serie, tal vez sea un posible futuro, quien sabe.

ZEKARLOS disse...

E eu estou contigo...

S disse...

...e VIVA a Islândia!

Angel Corrochano disse...

Por completo de acuerdo. Perfecta entrada amigo.
Deberíamos formar una partida de caza e ir en busca de presas ....
En estos últimos años estamos asistiendo a un proceso histórico sin parangón. Una crisis, creada por especuladores, banqueros y multinacionales, que se cobra vidas, clases sociales, entornos naturales, ecosistemas, sociedad, ... y no hay respuesta, no hay protesta, ... apenas leves atisbos tímidos e insuficientes.
¿donde están la verdadera izquierda que arme una respuesta de oposición contundente, clara y alternativa?

Muy lamentable, amigo mío, y por desgracia lo que está sucediendo ahora, nos pasará factura durante muchos, muchos años.

Fuerte abrazo

chanclas disse...

Una pelicula que me impresionó y que recuerdo perfectamente.
¿Era ficción, realmente?
Yo creo que avanzamos a gran velocidad hacia ese Soylent Green
Saludos

leonor disse...

há mais caminho para lá da abstenção ou do bloco central...encontramo-lo todos os dias nas opções que fazemos e nos muros que escolhemos para derrubar. anda mas é para a rua cantar!
http://www.youtube.com/watch?v=bUDGSbi7-Zs

ChocaSoy disse...

http://youtu.be/iR6oYX1D-0w

IRIS disse...

nunca tanta informação nos atolou tanto os movimentos. uma grotesca subversão, sendo a informação o fundamento do saber e o saber o fundamento do agir. mas informação não é propaganda e pouco mais que isso temos sabido produzir. informação é um espelho no qual temos que ser capazes de nos olharmos e desassombradamente desenharmos uma imagem inteira e, por isso, reveladora de nós e do mundo, porque é (somente) em nós, primeiro seres individuais e depois coletivos (ou ao contrário, tanto faz), que o mundo se revela ou se constrói.
é preciso verdadeiramente querer saber, conhecer, descobrir, não ter medo dos erros idos e dos erros que virão porque serão sempre eles que nos darão a matéria prima da nossa criação (são distintivamente humanos, como tão fascinantemente diz o CybeRider num outro espaço). a consciência é o mais poderoso combustível da transformação, nas urnas a 5 de Junho ou “nas opções que fazemos e nos muros que escolhemos para derrubar”, como diz a leonor f. aqui em cima.
a Islândia é-nos naturalmente fascinante, mas é apenas uma parte do espelho quebrado do mundo, temos que ser capazes de achar as restantes e, sobretudo, cuida-las e uni-las com a única substância que se nos afigurará imperecível. a música e qualquer outra forma de arte serão inevitavelmente reveladoras. já te disse alguma vez o que achava destas fotos? :-)

http://www.youtube.com/watch?v=pPR-HyGj2d0

um grande beijo

Choc'indaVolta disse...

Aqui é que a Choca volta...

http://youtu.be/C63gVIJ_kOs

Remus disse...

Totalmente de acordo.
E cada vez tenho mais certeza, que no dia 25 de Abril de 1974, devia ter dado uma caganeira forte a todos os portugueses. E dessa forma toda a gente teria ficado em casa a convalescer.